segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Lívia Andrade e o patrão

Nem jesus agradou a todo mundo. O Sílvio Santos, como toda figura pública, recebe boas e más críticas. A maioria dos seres humanos passou por bons e maus bocados pra chegar onde chegou, e não pretendo desmerecer o homem ou sua história, mas nunca simpatizei com essa figura de trejeitos facilmente imitáveis.

Quem ama o feio, bonito lhe parece, e quem simpatiza, raramente vê os desmandos cometidos sem culpa ou intenção maliciosa pelo patrão.  Lívia Andrade é uma atriz que desde que conheço sempre trabalhou no SBT, emissora fundada do nada pelo ex-vendedor de laranjas==== Sílvio Santos. Mas o primeiro patrão dela que conheci merece uma nota, pois o caso, se não era real, ao menos é correlato.

A Lívia possuía um personagem No programa de humor sabatinal "A praça é nossa" a Lívia possuía uma personagem === (esqueci o nome!) interessante: uma secretária "boazuda" (como se dizia na época), de seios fartos (a atriz também os tem), que vivia cheia de dengos pra cima do patrão, que (se bem me lembro) ora queria abusar de sua posição, ora admitia sua velhice e impotência de vigor. Pois não é que a personagem ficou marcada, e até hoje se diz que a Lívia tem algo com seu patrão (agora falo do Sílvio)? Me interessa a vida pública, não a privada alheia, e no que diz respeito à vida pública, há uma relação no mínimo controversa entre Lívia e seu patrão.

Parei totalmente de ver o monstro da televisão brasileira numa fatídica tarde em que, no jogo dos pontinhos (a Lívia até hoje aparece todo domingo pra jogar), ela foi reclamar sei-lá-o-quê e o patrão, dizendo que aquilo não era uma democracia, a expulsou do palco. Tanto ela quanto eu quanto o público achávamos que era alguma brincadeira e que depois ela voltaria ao palco, e isso explicaria pra mim, pra ela e pro público o porque do semi-riso de surpresa da calipígia. Mas ela não voltou. Aquilo me desconfortou e o patrão começou a distribuir dinheiro e a dar andamento noutra brincadeira (boa jogada pra desviar minha atenção, patrão). Deu-me ojeriza do osga... nem lhe prestava mais ôncias. Até ainda há pouco ======(lembrando ao leitor que os artigos são escritos dias antes de publicados) quando ligo a televisão e a vejo um pouco mais magra, mas ainda no mesmo programa, no mesmo jogo, e o patrão ainda zombando dela, pra diversão da parte da audiência que acha aquilo apenas um jogo de implicância amistoso. A cada rodada, o patrão tem que por força falar com ela, sempre um gancho para a alfinetar(alfinetar é um bom eufemismo para os que não consideram uma zombaria da parte de um ex-trabalhador braçal que cresceu na vida honostamente). A Ellen==== Ganzarolli (sua protegida, ex-gata da noite do sábado animado, onde se arrastava de quatro ao redor de um pole com um irrisório biquíne brega de oncinha que nunca vi homem apreciar, com seus olhos verdes, única beleza pra competir com a "Gata molhada" que rebolava sob um chuveiro até desaguar num topless às uma da madrugada, enquanto nos intervalos do programa eram exibidas mensagens elevadas do Chico Xavier. A Ellen cresceu, graças aos olhos verdes, pois tudo mais nela é engodo e montagem, como uma drag queen, com todo o respeito por essas meninas de quem sou fã, ou como uma emo-gótica recém-maquiada.) competindo também com a Lívia, recebeu indiretas com tom de escárnios e caras alegres-irônicas, da parte da Lívia. Eu particularmente acho que houve uma evolução desde a última vez em que vi a meninota. Está mais ferida, ressentida, magoável, melindrosa, desiludida, mais bonita, mais sincera e mais triste. Ela comentou que, assim como à Ellen, também insinuaram que ela e o patrão teriam um caso. Mas creio que o motivo para ela ainda estar no quadro de todo santo domingo é o abuso de poder que apraze o cada vez mais ranzinza Sílvio.

Pois esse trelelê (=======) todo foi para chegar à postura de certas pessoas, das quais ao menos uma habita algum círculo social em comum com o leitor. E dessas há em todos, em variados níveis de hierarquia e de besteirol em sua brincadeiras geralmente depreciativas. Muitos vezes não é conosco, e nessas, até rimos, achamos divertidos e dizemos que o assediado deveria levar na esportiva. Esqueçamos que o próximo pode e será eu ou você e nos concentremos em fatos:
Essa pessoa crescerá emocionalmente de forma muito lenta, atrapalhando também o crescimento dos que com ela convivem;
Essa pessoa usa seu senso de humor escatológico como último recurso contra atrocidades que sente que a vida lhe comete. Não que cometa, mas ela se sente assim, no fundo.
Essa pessoa nunca cairá na real se alguém não lhe fizer a cristandade de, num momento de guarda-baixa ou mesmo de tristeza, lhe dizer que deve mudar de conduta.
Essa pessoa tende a reunir a pessoas semelhantes, e transmitindo seu humor às outras maças do cesto, e  o próprio leitor não está imune.====
Essa pessoa, a quem você conhece, faz parte do seu círculo social, e você deveria: a) atentar à quantidade de contatos que estabelece com ela (não lhe dar bola!); b) escolher cuidadosamente seus amigos mais próximos.
Essa pessoa nem sempre foi assim e, talvez, não será sempre assim. É alguém que sofre e precisa de ajuda e paciência.
Essa pessoa diz coisas às quais você não deve dar atenção. Como diz o alcorão, Alá nos deus dois ouvidos, mas apenas uma boca, para ouvir mais do que falamos. Nem todos são sábios para entender isso.

A sabedoria também está em ter capacidade para selecionar, e em não discriminar os que nos são diferentes. Como o velho testamento, evite o pecado, não o pecador, pois até Cristo comia com estes. A ficção pura e a arte nunca darão conta de recriar ou imitar todos os tipos humanos, e cada um de nós é uma mistura, em diferentes porções, de vícios e virtudes, de todos os vícios. Cabe a cada um não só olhar para os que estão à sua volta, mas acima de tudo, vemos nos outros apenas o que temos em nós: aceitemos que ainda somos assim também, mas para crescer e deixarmos de ser. ======="O macaco sentado sobre o próprio rabo só olha pro rabo alheio." Mestre Olíndio.

Essa semana reserve um tempo para repensar suas amizades, os produtos culturais que consome, suas mensagens, o tipo de humor que você tem apreciado e as coisas a que tem assistido. Atente aos apresentadores de tevê que parecem engraçados e bem-humorados, olhe para suas olheiras de gaviões, para seus pés crispados em garras, prontos a devorar o cordeiro que cai na cova da serpente. Não estou necessariamente falando do Sílvio Santos, mas do Senhor Burns (dos Simpsons--------), e de quaisquer seres humanos a quem  o poder pode cegar(Eh, Robespierre decaptador e decaptado! Cruel ironia do destino!). Sendo ou não o leitor um poderoso hierárquico (sempre somos em algum nível), trate melhor as pessoas ao seu redor. E principalmente a Lívia Andrade, coitada.