terça-feira, 16 de novembro de 2010

Elogio da loucura - Erasmo Rotterdam

Trilha sonora: Sufoca da vida - Harmonia enlouquece


Ainda não li o livro homônimo a esse artigo, mas gostaria de fazer o meu elogio. Tudo começou quando vi um colega com o livro homônimo desse artigo. Ainda não o li (e quem, entre os mortais comuns, já leu todos os clássicos de verdade?), mas independente do Erasmo (quando vi esse nome como autor do livro, pensei se tratar do Erasmo Carlos, o sósia de si mesmo [Raul Seixas que pioneiro nisso... foi até preso por imitar a si mesmo.], mas custei a acreditar. É que eu não sabia do primeiro nome do Rotterdam. Alguém sabe o nome completo de Platão? Algum universitário? A "universitária" Geyse Arruda, talvez?), quero fazer o meu comentário.

Supomos que o Erasmo seja um pouco louco por escrever um livro com esse nome, mas já dizia o Machado de Assis: "De médico e louco, todo mundo tem um pouco" (carece de confirmação de autoria). Ou então ele gostaria de ser louco. Ou sente-se assim e não gostaria. Vamos refletindo que o leitor entenderá onde quero chegar.

Na contracapa, como é praxe hoje em dia, temos algumas frases retiradas do livro. Numa delas ele usa a palavra loucura, mas parece querer se referir à obsessão. Há diferenças sutis nos tipos de loucura, embora tendamos a chamar de louco e não pensar no assunto. Divido em três tipos, a saber:

Obsessão.
Se caracteriza por um pensamento vicioso, que cria constantemente conexões com outros. Quando evitamos pensar no objeto da obsessão, qualquer outro caminho que nossa mente tome nos leva até o objeto. Na obsessão, nossa vontade sofre a interferência do nosso subconsciente, que irracionalmente insiste numa idéia até que ela seja satisfeita. No entanto, como o objeto da obsessão é ideal e não real, por mais que satisfaçamos a obsessão no plano real, jamais estaremos saciados, pois sua fonte geradora-contínua é no plano das idéias. A única forma de saciar a obsessão é abandonando-a. Para isso, é necessário descobrir suas causas, conseqüências, paliativos e remosos(agravantes), e alternativas de escolha. A vingança é um exemplo. A obsessão difere levemente do remorso. O remorso (remoso [ô] não é remorso!) se caracteriza por uma situação, real, imaginária ou mista, que se repete constantemente no palco da mente do sujeito (Pe. Léo, SCJ, A cura do ressentimento, 2003[?], Editora Loyola). O remorso não leva a uma ação, diferente do obsessão. Na obsessão, após a ação, é comum o objeto da obsessão mudar levemente e progressivamente. Paulatinamente, mesmo com grandes mudanças de objeto (porém sempre relacionados), a obsessão é cada vez menos satisfeita.

Psicose.
A psicose é uma doença mental (do latim [?], psico=mente; cose=infecção, doença) propriamente dita. Existem vários tipos de psicose, sendo que a obsessão tanto pode ser uma dessas quando sintoma de um outro tipo. Podemos dividir as psicoses em três tipos: orgânicas, psicológicas e mistas. As orgânicas são as adquridas antes ou depois do nascimento, assim como através de acidentes e traumatismos. Nesse tipo, as funções mentais se danificam de alguma forma. Um exemplo desse tipo é o autismo e a Síndrome de Down. Na psicose psicológica (acabei de criar um termo "científico"! >.<), a origem está na mente do sujeito, assim como sua cura. A anorexia nervosa, bulimia e as fobias são exemplos de psicoses. As psicoses mistas, como a neurastenia, têm origem tanto no corpo quanto na mente do sujeito. Um exemplo disso é(sic) os casos em que a mediunidade pode ser confundida com loucura (Leia a respeito de mediunidade em O livro dos médiuns). Outro exemplo é o Distúrbio Intermitente Explosivo(leia mais aqui). O psicótico seria o louco doido maluco mesmo, o de hospício (ouça aqui e aqui =========).

Trilha sonora da loucura mansa: Maluco beleza - Raul Seixas



Loucura mansa.
O "louco manso" vem a ser o sujeito que é dito louco porém não foi diagnosticado. Nem louco ele é, mas sim um incompreendido. De forma geral, a loucura é um desvio (que pode ser leve ou acentuado) na percepção de realidade interna e/ou externa. O louco não percebe a realidade como nós a percebemos, ou não tem a mesma percepção interna. Freud afirma que todos nós somos loucos (Raul também disse...), e a afirmação tem algo de verdadeira se acreditarmos que nenhum ser humana percebe as coisas como outro ser humano (segundo o livro Fantasmas no cérebro, de Ramachandran e Sandra Blakeslee, Editora Record, 2002). Ou seja: se o louco é aquele que percebe diferente de mim, então eu também sou um louco para ele, pois percebo diferente dele. Há também a frase: "A sabedoria do homem é loucura para Deus, e a sabedoria de Deus é loucura para os homens" (Bíblia Sagrada, Novo Testamento, Primeira Espístola de Paulo de Tarso aos Coríntios, capítulo 1, vers. 25; cap. 3, vers. 1 a 21; c. 4, 1 a 2)., que deixa claro que desde as culturas mais antigas era considerado louco aquele cujo pensamento não compreendemos. Explicado o conceito de loucura, explico agora o conceito de louco (que se aplica a quase todos os casos): o louco é um cara que pratica uma ação/frase/pensamento que não entendemos de onde veio e/ou pra onde vai. Não sabemos o porque ou o pra quê. Se o sujeito não consegue explicar de forma compreensível, continua a ser dado como louco. Mas é preciso atentar que nem todas as nossas ações/frases/pensamentos têm motivo ou sentido conhecido, mesmo para nós que as praticamos, pois muitas vezes agimos/falamos/pensamentos de forma quase inconsciente. Um outro exemplo de louco: o sujeito pula numa perna só durante três horas, olhando para a letra "A" escrita numa placa. Você compreende por quê ou para quê ele faz isso? Um outro exemplo: no filme "O segredo de Beethoven", é mostrado o cara rindo da cara de quem se aproxima enquanto ele toca. Ele ri, aponta a cara da pessoa e volta a tocar. Um outro exemplo: Einstein dava língua sempre que podia, ao tirar uma foto (engana-se quem pensa que a língua dele é que não cabia na boca). Einstein fazia isso para zombar do nível intelectual a que a humanidade está acostumada, era a forma de protesto dele. Beethoven ria de alegria pela obra que tocava e porque o outro não podia compreender a dimensão do que ele tocava. Já o cara da placa, não sei porque ele pulava, mas que ele devia ter um motivo ou sentido, isso devia. Só que eu não acompanho o raciocínio. Talvez não a parte racional da mente dele acompanhe a raciocínio da mente dele, por isso, talvez ele não saiba explicar. Mas o mais importante é o que diziam o poetas clássicos:

"Nós, os malucos, vamos lutar
Pra nesse estado continuar
Nunca sensatos nem condizentes
Mas parecemos sempre contentes(...)"
                          Hino dos malucos, Rita Lee.

"Louco, você diz que eu sou louco,
Não consegue entender
Que no fundo eu sou louco
Muito louco por você(...)"
                          Loco, Leandro e Leonardo

Se você é um louco, obsessivo, psicótico ou manso, se você percebe a realidade diferente de ao menos uma pessoa, se nem todos acompanham seu raciocínio, se você faz/fala/pensa coisas que parecem loucas, não tema: ser louco é que é o normal. O sujeito que não é, acredite, tem algum problema.

Mas uma vez que a loucura é um desajuste que de alguma forma prejudica alguém, algo, alguma relação social ou relacionamento, comece a pensar sobre sua loucura. Conhece-te a ti mesmo(Sócrates). Comecem por vos entender uns aos outros(O Espírito da Verdade, em O Livro dos Espíritos). Investigue a causa de seus sentimentos e pensamentos, procure, como diria Darwin (teoria da seleção natural das espécies) se adaptar ao meio, para tirar melhor proveito dele (Já diria Sr. Miagi em Três ninjas kick back, filme de 1994). Talvez a maior causa de infelicidade do ser humano seja o sentimento de desejuste entre sua forma de perceber o mundo que o cerca e o mundo que há em sua mente. Devemos fazer com que ambos os mundos se pareçam cada vez mais, aproximando-os do ideal que cada um tem. Acima de tudo, devemos lutar para mudar as coisas que nos desagradam ou que não condizem com nossa realidade interna. Afinal, como diria o poeta:

Você não sei de mim
Mais nada, braço, cadeira, macarrão
Você não sei de mim
Me dá uma chance, tempo pra me recuperar(...)

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